domingo, 29 de setembro de 2013

Caro amigo






       
          Agora escrevo não para um amigo imaginário mas para alguém que ama Paris com o mesmo calor que eu. Estás aí nessa bela cidade a quem chamamos de Musa e me telefonas para contar dos teus passeios, visitas a exposições, museus,  restaurantes, cinemas, parques, concertos nas igrejas e tantas coisas que podemos fazer nessa cidade sonhos.
Sabes amigo, aqui no recolhimento do meu lar, impossibilitada de caminhar, agradeço-te o carinho de dividires comigo a tua felicidade de estar em Paris! Então o que faço? Vou divagar e escrever sobre a cidade e seus encantos. Fecho os olhos e me transporto nas asas do sonho e vou te encontrar no “Le Dôme”.
 Estás sentado com uma prancheta na mão cumprindo a tua missão de artista. Não vês que me aproximo. Guardo uma certa distância e fico observado os teus dedos ágeis no “carton” e o que vejo me encanta: desenhas uma mulher de cabelos longos esvoaçantes, vestida com um tecido transparente, deixando aparecer uma silhueta de corpo esguio e longas pernas. Estás fixado apenas no corpo, pois o rosto está encoberto pelas abas de um chapéu. Quem será a sílfede que invade os teus pensamentos? Ergues a taça como se brindasse ao infinito e sorves o vinho branco lentamente.
São quase sete horas da noite e o sol ainda brilha no firmamento. Na calçada o vai e vem de pessoas de todos os tipos e idade é intenso. No meio-fio, pombos arrulham! Um pouco mais adiante, sentado num banco, um velho homem dedilha no acordeon canções de amor e paixão. Tudo é nostalgia em Paris! Apesar de estarmos no século vinte e um.
Reluto em me aproximar. Não sei por que. Digo pra mim mesma. É melhor mantermos o anonimato, finalmente somos amigos há um bocado de tempo e nunca nos vimos, apenas nos falamos. É melhor que cada um de nós imagine o outro da forma que quiser.
Estou sentada perto de ti, saboreio uma borbulhante taça de champanhe e te observo. Quem sabe amanhã, nas minhas perambulações eu te reencontre e então possamos trocar um caloroso abraço! Vamos deixar o tempo passar. Paris.set/013

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Querido Amigo

A madrugada se despede e, por trás das montanhas de nuvens, tal qual o sol, chegas radiante de luz e esplendor. Poderoso, viril, vens aquecer corpos e almas. Onde dormiste querido amigo? A quem cobristes com o teu calor, renovando a vida e os sonhos? A mulher frágil inveja a mãe natureza que todos os dias tem o mar como berço, adormece com a lua e acorda beijada pelo sol. Hoje, deixo as brumas da noite e qual uma flor molhada de orvalho, estou pronta para te receber. Faz tanto tempo que não acordas ao meu lado! Misturando sonho e realidade, estendo meus braços procurando teu corpo aquecido pelos lençóis e encontro um espaço vazio, onde minhas mãos tateiam na busca inútil do toque. Como em tantas outras madrugadas, sou a mesma mulher úmida que cobria de beijos o teu corpo, despertando a fera adormecida que trazias contigo. E o embate se dava, deixando-nos suados, corações acelerados. Era uma batalha onde a paixão e o desejo disputavam o hoje, como se nunca mais houvesse amanhã. Eis que a realidade do momento me desperta os sentidos, me acorda, me desmancha, deixando-me ardente e solitária. Que saudades meu querido e amado companheiro! Foste um homem múltiplo, tanto no ser como no ter. Por isso, em vez de chorar a tua ausência eu me conformo em lembrá-la, trazê-la de volta para mim. A vida, um dia, qual mulher invejosa te roubou, levando-te para bem longe, talvez numa distância onde sejam precisos anos luz para alcançar-te. Acovardo-me e confesso não ter forças para lutar. Prefiro permanecer plantada qual árvore frondosa enraizada no chão. Ainda sou forte e tenho sombra e seiva para ofertar-te, se um dia voltares. Aqui, além dos sonhos, tenho o nosso velho amigo – o mar, que tantas vezes nos abraçou misturando corpos e desejos. Como fomos primitivos na loucura da paixão. Quantas insensatez cometemos. O amor nos cegou, levando-nos por caminhos de sal e sol, mas é este amor que ainda hoje permanece em nós. Sim. Tenho certeza. Não foi um amor uno, só meu, ele foi e é nosso. Tanto amaste como te deixaste amar. Assim, a mulher vivida pelo tempo não se deixa abater. No meu coração é sempre primavera, a estação do amor. Durmo e nos meus sonhos estás comigo, nas minhas alegrias e tristezas. Marcaste-me o corpo e a alma como tatuagem. Podes ficar certo querido amigo, as tuas marcas morrerão comigo, assim como as lembranças dos teus beijos e o calor do teu corpo na cumplicidade da alma. Saudades de tudo ou de nada. Recife. Out/04.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Meu querido

Hoje o vento sopra forte e o mar está bravio. Chove. O dia é feio e triste. Estou lendo um belo livro que se intitula "Cartas a Nelson Algren “Um Amor Transatlântico," a correspondência de Simone de Beauvoir ao seu "amante/marido/amor transatlântico" como assim ela o definia. Uma longa e bela história de amor, vivida entre 1947 até 1964, com encontros anuais de pouco tempo, mesmo que freqüentes.(Apenas uma vez chegaram a passar juntos cinco meses). Desculpe a modéstia, mas percorrendo as páginas do livro, me reencontro muitas vezes, pois estou certa de que a linguagem do amor é a mesma, apenas se repete em idiomas diferentes. Questiono? Como pode Simone, mulher intelectual, cética¸ prática e amoral ter tão grande potencial de amor? Então caro amigo, o amor invade qualquer praça, mesmo que as defesas sejam muitas. Foi também, para mim, uma descoberta de muitas coisas que eu ignorava a respeito da vida intelectual e política francesa daquela época. Um livro rico, pois as cartas são em forma de diário, um relato do dia a dia de Simone, Sartre e amigos. Ela queria que o seu amigo estivesse a par de tudo o que lhe acontecia, das alegrias e tristezas. Também escreve da sua paixão pela cidade de Paris, fala dos seus parques floridos na primavera, da aridez do verão, quando fugia sempre para uma região onde o mar estivesse presente e da crueldade do inverno, das brumas, do frio, dos cafés, das noites alegres e de outras solitárias, quando ela então chorava a falta do seu amor, do calor de um corpo, etc. Uma das coisas mais belas entre tantas que Simone escreve para Algren, é quando ele reclama que está cansado dos seus abraços frios, pois tem no meio um oceano e ela lhe responde: "Não se preocupe, breve eu estarei por inteira com você e então os abraços serão quentes como um vulcão". E assim, vou me encontrando em tantas coisas que a gente diz quando quer bem, está longe, sente falta e saudades. Com a minha total liberdade para contigo posso dizer: estou me reencontrando no tempo passado, nas muitas e muitas cartas que escrevi, quando falava de ternura, amor e sentimentos. Não quero ser pretensiosa, mas a linguagem dos amantes é realmente universal, e estou muito feliz de saber que uma mulher brilhante e intelectual como Simone, pode ser tola e amorosa, quando fala de saudade e da falta que sente do amado. E assim, vou relembrando com mais cor os grandes e bons momentos da nossa amizade. Quando a gente envelhece, o corpo e o espírito ficam mais carentes, de contatos, toques, palavras e afetos. De tudo isso sinto muita falta. Não sei no teu caso, mas para mim está sendo muito difícil, pois apesar dos filhos, eles estão voltados para si mesmo e suas vidas, o que é natural. O mundo, no caso o meu, torna-se limitado. Gostaria muito de ter um amigo para conversar, ri um pouco da vida e das coisas. A amizade é muito importante e na medida em que o tempo passa, ela vai se tornando essencial para o aquecimento dos corações. Abraço-te carinhosamente, com saudades. Praia de Boa Viagem. Ina Melo.

Meu querido

Escrevo-te de um tempo passado, onde tudo está partido em mim, aos pedaços. Os fragmentos voaram de um lado para o outro e falta-me coragem para recolhê-los. Assim, vejo hoje a minha vida se diluindo. Desejos e sonhos se afastando. Será isto a velhice, estação certa a que todos chegaremos um dia? Sei que ainda insisto em me agarrar a um pouco de tudo o que tive. Mantenho uma brava luta para estar na minha casa, num lugar privilegiado que Deus me ofereceu. Daqui, de onde escrevo, vejo o mar que poderei alcançar quando quiser – ele está ali a poucos metros. Conheço todas as suas nuances, vejo-o sempre com o olhar de uma mulher apaixonada, mas temerosa. Por quê? Antes, corria para ele, enfrentava-o, lutava mesmo. Gostava quando medíamos forças. Claro, o vencedor era sempre o mais forte, então me deixava levar nos seus braços à deriva, sem me importar com o tempo. Hoje, resisto e me acovardo. Sinto-me insegura, ainda assim me entrego com volúpia às águas mornas que acariciam o meu corpo Ah! Tempo feliz. Recife, Maio/05

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Meu querido

Hoje acordei nostálgica, saudosa, triste, quase infeliz. Abri os olhos e vi a cama grande demais para uma mulher frágil e só. Procurei algo tocável que me trouxesse você de volta e nada. Abracei-me com os travesseiros e voltei a dormir. Então aconteceu: sonhei que estavas comigo, como no passado. O mesmo homem viril, quente e carinhoso. De leve, toquei com as pontas dos dedos o teu peito e corri suavemente a linha dos pêlos que me levaram, aos mistérios do sexo. Acariciei o meu objeto de prazer. Fechei os olhos e pensei nas loucuras de ontem. Retornei ao hoje, alisei os teus escassos cabelos prateados, senti o arfar do teu coração, vi um intenso brilho nos teus olhos e na tua boca entreaberta vagarosamente introduzi minha língua, bebi tua saliva num longo beijo. Deitei-me sobre ti e senti o teu calor. Tua virilidade estava qual uma lança pronta para entrar em combate. Aí acreditei. Sim, estavas comigo, igual a tantas outras vezes. Senti teus braços me enlaçando e mãos macias passearam sobre o meu corpo. A mulher renasceu. Lágrimas rolaram pela minha face e bebestes as pequenas gotas salgadas. Rimos e choramos no reencontro da paixão. Calmo, deixaste a mulher explodir na sede do desejo. Fiquei a tua mercê. Tua boca quente sugou os meus eretos mamilos deixando-me trêmula de prazer. Sabiamente desbravavas a fêmea sedenta. Fizeste de mim o objeto do teu prazer, da tua luxúria. Como das outras vezes, a mulher rendia-se ao homem, igual ao desabrochar de uma flor. A princípio, vinhas calmo, depois explodistes qual um vulcão em fúria. A seiva quente corria misturando nossos sabores. Abri os olhos, vi o teu rosto sereno, com a paz que só o amor oferece. Prendi meu corpo junto ao teu. Adormecemos num longo abraço, talvez para nunca mais acordar.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Querido Amigo

Hoje é o teu aniversário. Gostaria de romper as barreiras do tempo e retornar a um passado longínquo quando, junto com alguns amigos, almoçamos num pequeno restaurante. Guardo, ainda comigo, a mensagem carinhosa que escrevestes no guardanapo. Naquela época éramos jovens, alegres e felizes. Brincávamos com a vida e quem sabe, talvez, com sentimentos. São quase três décadas passadas e a nossa amizade não mudou, sim, posso dizer: Somos amigos, mesmos que tenhamos vivido em mundos diferentes, num turbilhão de trabalho e problemas. Sempre arranjavas um pouco de tempo para mandar a amiga distante, uma mensagem de amizade e ternura. Dificilmente, as pessoas acreditariam que, por décadas e décadas, pudéssemos manter acessa a chama de uma verdadeira amizade, apenas com diálogos íntimos, falando do mundo e de nós. Homem e mulher, unidos sem contatos físicos, cerceamentos pessoais, cobranças e tantas outras coisas. Cada dia que passa, quero-te bem de forma límpida e transparente. Deixei a vida passar por mim, seguindo o curso do rio, sem saber quando irei encontrar o mar que me abrigará na eternidade. Quebrastes a rotina da tua vida com o inesperado, mas pelo que sei nada mudou, o que é uma pena. Achei que terias coragem de refazê-la para ser feliz. Hoje, estamos com muito mais sabedoria por conta dos anos acumulados e podemos falar de nós, de amizade, de bem-querer, sem temer críticas ou insinuações maldosas. Que bom poder declarar o meu intenso carinho por ti. Feliz aniversário, amigo perdido nas galáxias dos meus sonhos.